sábado, 4 de janeiro de 2014

Tropicalismo Cinza- A estranha estória do disco tropicalista de Nelson Gonçalves que todo Mundo esqueceu.



Diz a lenda que em uma noite boêmia da Boca do Lixo em SP lá pelo final dos anos 60, o cantor Nelson Gonçalves, consumidor ávido de alteradores da mente, foi apresentado ao LSD por uma Ninfeta Hippie com quem tinha um caso.
O efeito foi devastador na mente do velho Boêmio, ele trocou os ternos por batas psicodélicas, e a cocaína pelo ácido, começou a ouvir jovem guarda e andar com os tropicalistas. Numa manhã, invadiu a sede da sua gravadora na época a RCA Victor, com mil ideias para um disco, segundo suas próprias palavras, ia sintoniza-lo com a "Moçada".
A medida que Nelson falava de suas propostas para o novo disco os executivos da gravadora fechavam a cara, e retrucavam "Nelson, você não precisa disso, já tem seu público consolidado, faz sucesso pra que isso agora?", irritado Nelson deu um soco na mesa, e disse que se não gravasse iria oferecer o projeto para uma gravadora rival.
A RCA cedeu, e Nelson exigiu ser produzido por Rogério Duprat e ter os Mutantes como banda de apoio e assim o LP, "A Máquina Colorida Tropicalista de Nelson Gonçalves", foi gravado entre Outubro e Dezembro de 69 e lançado em Janeiro de 70.
O Disco abria com uma versão lisérgica de "Negue" um standart da carreira de Nelson, transformado aqui em música para acompanhar fossa de hippies chapados, com guitarras viajantes e barulhinhos estranhos, em seguida o dueto com Gal Costa em "Não Identificado" emociona até o mais ogro dos mortais com sua gravação anos luz do original, os dois interpretes reinventam a canção e tornam sua versão definitiva.
Jards Macalé escreve um tango psicodélico especialmente para Nelson, a bela “Eterno Retorno” (estamos presos amor/acorrentados uma ao outro/ enquanto o Mundo gira nessa rotina cruel de eterno retorno), Tom Zé está presente em “Andarilho da Noite” (Caminharei pelas avenidas na noite invernal/ onde chegar, não sei/ estou aqui preso no concreto longe do paraíso tropical).
O Dueto entre ele e Nara leão em “Desculpe Baby” dos Mutantes, uma espécie de marchinha de carnaval movida a ácido, e um dos pontos altos do disco.
Na capa, um Nelson Gonçalves sem camisa, forte, com guias de umbanda no pescoço, cabelos longos, de braços cruzados e olhar desafiador, Nelson e abraçado por uma linda hippie loira, e o casal cercado por uma falsa ilha tropical, onde vemos cartazes com slogans como “e proibido proibir” colados nas arvores de plásticos, enquanto modelos vestidos de macacos se escondem atrás delas.
O Lançamento do disco foi no Programa “Divino e maravilhoso”, onde Nelson acompanhado dos mutantes e convidados, apresentou o disco na integra. Mas como era de se esperar, a ousadia do cantor não foi entendida nem pelo público nem pela crítica, que rechaçou o disco sem piedade, acusando o cantor de oportunista e “dinossauro lutando para não ser extinto”.
Depois do fracasso e de uma bad trip violenta de Lsd, Nelson renegou o disco e voltou a abraçar seu público original, apenas no final da vida ele voltou a cantar as canções dessa obra prima perdida que somente agora começou a ser redescoberta, e nos sebos e mais valioso que os “Racionais” de Tim Maia ou os discos psicodélicos de Ronnie Von (que só se arriscou depois de ouvir o disco de Nelson).
Com "A Máquina Colorida Tropicalista de Nelson Gonçalves", o interprete trouxe para o alegre planeta tropicalista, uma carga de amargura e tristeza que antes era apenas sugerida. Foi rotulado por Gil como “Tropicalismo Cinza”, algo que soava como uma ressaca numa quarta- feira de cinzas chuvosa.
Uma pequena obra prima pronta para ser redescoberta por uma geração inteira da MPB, que e reverente demais e deveria aprender o que e ousadia com o exemplo do velho boêmio.

Jefrey Nunes e editor da revista Bizz da Terra paralela Z, onde o jornalismo cultural e a profissão mais bem paga do mundo.







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