Diz
a lenda que em uma noite boêmia da Boca do Lixo em SP lá pelo final dos anos
60, o cantor Nelson Gonçalves, consumidor ávido de alteradores da mente, foi
apresentado ao LSD por uma Ninfeta Hippie com quem tinha um caso.
O
efeito foi devastador na mente do velho Boêmio, ele trocou os ternos por batas psicodélicas,
e a cocaína pelo ácido, começou a ouvir jovem guarda e andar com os
tropicalistas. Numa manhã, invadiu a sede da sua gravadora na época a RCA Victor,
com mil ideias para um disco, segundo suas próprias palavras, ia sintoniza-lo
com a "Moçada".
A
medida que Nelson falava de suas propostas para o novo disco os executivos da
gravadora fechavam a cara, e retrucavam "Nelson, você não precisa disso,
já tem seu público consolidado, faz sucesso pra que isso agora?", irritado
Nelson deu um soco na mesa, e disse que se não gravasse iria oferecer o projeto
para uma gravadora rival.
A
RCA cedeu, e Nelson exigiu ser produzido por Rogério Duprat e ter os Mutantes
como banda de apoio e assim o LP, "A Máquina Colorida Tropicalista de
Nelson Gonçalves", foi gravado entre Outubro e Dezembro de 69 e lançado em
Janeiro de 70.
O
Disco abria com uma versão lisérgica de "Negue" um standart da
carreira de Nelson, transformado aqui em música para acompanhar fossa de
hippies chapados, com guitarras viajantes e barulhinhos estranhos, em seguida o
dueto com Gal Costa em "Não Identificado" emociona até o mais ogro
dos mortais com sua gravação anos luz do original, os dois interpretes
reinventam a canção e tornam sua versão definitiva.
Jards
Macalé escreve um tango psicodélico especialmente para Nelson, a bela “Eterno
Retorno” (estamos presos amor/acorrentados uma ao outro/ enquanto o Mundo gira
nessa rotina cruel de eterno retorno), Tom Zé está presente em “Andarilho da
Noite” (Caminharei pelas avenidas na noite invernal/ onde chegar, não sei/
estou aqui preso no concreto longe do paraíso tropical).
O
Dueto entre ele e Nara leão em “Desculpe Baby” dos Mutantes, uma espécie de
marchinha de carnaval movida a ácido, e um dos pontos altos do disco.
Na
capa, um Nelson Gonçalves sem camisa, forte, com guias de umbanda no pescoço,
cabelos longos, de braços cruzados e olhar desafiador, Nelson e abraçado por
uma linda hippie loira, e o casal cercado por uma falsa ilha tropical, onde
vemos cartazes com slogans como “e proibido proibir” colados nas arvores de
plásticos, enquanto modelos vestidos de macacos se escondem atrás delas.
O
Lançamento do disco foi no Programa “Divino e maravilhoso”, onde Nelson
acompanhado dos mutantes e convidados, apresentou o disco na integra. Mas como
era de se esperar, a ousadia do cantor não foi entendida nem pelo público nem
pela crítica, que rechaçou o disco sem piedade, acusando o cantor de
oportunista e “dinossauro lutando para não ser extinto”.
Depois
do fracasso e de uma bad trip violenta de Lsd, Nelson renegou o disco e voltou
a abraçar seu público original, apenas no final da vida ele voltou a cantar as
canções dessa obra prima perdida que somente agora começou a ser redescoberta,
e nos sebos e mais valioso que os “Racionais” de Tim Maia ou os discos
psicodélicos de Ronnie Von (que só se arriscou depois de ouvir o disco de
Nelson).
Com
"A Máquina Colorida Tropicalista de Nelson Gonçalves", o interprete
trouxe para o alegre planeta tropicalista, uma carga de amargura e tristeza que
antes era apenas sugerida. Foi rotulado por Gil como “Tropicalismo Cinza”, algo
que soava como uma ressaca numa quarta- feira de cinzas chuvosa.
Uma
pequena obra prima pronta para ser redescoberta por uma geração inteira da MPB,
que e reverente demais e deveria aprender o que e ousadia com o exemplo do
velho boêmio.
Jefrey
Nunes e editor da revista Bizz da Terra paralela Z, onde o jornalismo cultural
e a profissão mais bem paga do mundo.
alguém tem esse disco? eu naum encontro
ResponderExcluirkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirExiste? Seria divino e maravilhoso se fosse verdade!! rs
ResponderExcluirLúdico!
ResponderExcluirMaravilhosa essa crônica!!!
ResponderExcluirMuito bom KKKKK
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