quarta-feira, 30 de maio de 2012

Bem vindos a Belém do Pará. (um guia pseudo musical)


Belém e quase uma impossibilidade.
Um estupro urbano formado por arranha céus, lixo, baixa e alta tecnologia,  no meio da imensa floresta que teima em circundar a cidade. De suas áreas desmatadas surgem 

novas edificações que parecem se entrelaçar, em um balé urbano desordenado e ao mesmo tempo estranhamente harmonioso.

Fundada em volta de um forte, e erguida por uma mistura de contrabando, gado e desmatamento, Belém e hoje a maior cidade da região, se espalhando por quilômetros de asfalto, sujeira e poluição.

Suas ruas são barulhentas, sujas e superpovoadas, o trânsito lembra as ruas de algumas capitais do sudeste asiático, no seu vai e vem descontrolado de veículos.

A elite habita imensos e bem equipados prédios, ou em quase inexpugnáveis, condomínios fechados, que se interligam formando algo parecido com pequenas cidades a parte. Seus abastados moradores, apenas observam  distantes,  seguros em seus helicópteros ou janelas de apartamento,, o restante da população tentando sobreviver, em meio ao caos pós urbano, das ruas.

As  periferias, são ocupadas por bandos super armados com fuzis de ultima geração, sustentados pelo dinheiro gerado por novas mutações de drogas sintéticas, que não param de surgir a cada semana, em cada beco ou esquina da cidade.

As águas da baia que circunda a cidade, e dominada por piratas do século 21 chamados de “Ratos D´água”, que singram os rios em lanchas supervelozes, saqueando embarcações e aterrorizando a população ribeirinha.

A força policial, apenas observa enquanto as gangs dividem a cidade em “setores” cada um com suas próprias leis e regras. A maioria dos seus  milhões de habitantes,  produto de uma curiosa miscigenação de negros, indígenas e brancos, vive no limite da pobreza e do subemprego.  Os índices de criminalidade são altíssimos, mesmo para os padrões de uma metrópole.

Mas o que realmente chama atenção alem do calor úmido e infernal que toma conta da cidade na maior parte do ano, e o barulho.

Uma cacofonia constante de musica em seu volume máximo, deixa um zumbido desagradável em ouvidos desacostumados, imensas caixas de som espalhadas pela cidade,  seja em residências ou no comércio, cospem musica quase que 24 horas por dia, deixando um zumbido constante e irritante nos nossos ouvidos.

A cidade, que já foi famosa pelo tecnobrega (um som irritante misturando  baixa tecnologia e musica trash), hoje passa por uma mutação musical nunca vista por essas bandas.

Uma mistura de batidas do Tecnobrega,  gritos de guerra  de torcidas, slogans , trechos de filmes e diálogos ou sons de games,sampleados em computadores vagabundos, toma conta da cidade.

Sai o Tecnomelody com suas letras ingênuas e versões pueris apropriadas do pop americano, e entra o que estão chamando de Pòs Brega. Mais próximo de Front 242 do que de Gaby Amarantos.

A célula musical do brega continua lá, com seu groove que convida a dançar, mas agora soterrado sob os escombros distorcidos de uma engenharia genética musical distorcida e realmente inovadora.

O Pós-brega estourou quando foi a trilha sonora das revoltas urbanas do ano passado, quando milhares de pessoas foram as ruas para protestar contra as péssimas condições de vida.  A cena já vinha sendo gestada há algum tempo, mas o tecnobrega reinava supremo. Foi preciso um choque de realidade para que o novo estilo viesse a tona.

Os tumultos surgiram de uma aliança entre, habitantes  da periferia, cansados do abandono a que forma relegados,  e hackers refugiados nas ilhas superpovoadas  ao redor da cidade.

Os hackers atacaram os computadores da cidade enquanto a periferia invadia o centro, num protesto pacifico e ordeiro.

Mas tudo saiu do controle, o que era reinvidicação se transformou em uma batalha campal que durou uma semana com centenas de mortos, e que só terminou, com a intervenção da força nacional.

O Maior expoente da cena do Pós-Brega, e o travesti Stheffany Suelen e sua banda AK 47.


Seus shows, verdadeiras celebrações hedonistas,  levam milhares de pessoas as festas de aparelhagem, uma mistura de Rave e Sound System jamaicano que há décadas embala as noites da cidade,  e seus hits “ tenho um fuzil no meio das pernas” e “Não sou homem e nem menina”, tocam a todo instante nas rádios e sistemas de sons do centro comercial chamado s de Rádios Cipó.

Outras caras da cena são:
A dupla de DJs Esquadrão de Bombas 07 - imaginem o choque entre  Public Enemy e Wanderley Andrade, tocada por dois moleques de 15 anos em computadores e samplers “envenenados” e chegara perto do som dos caras.
As Patys do Brega  - Três gatas que pregam o Pussy Power, cantando letras explicitas sobre sexo, traição com um ótica instintivamente  pós feminista,  embaladas por um som pesado e dançante, vestidas de personagens sexys de Animês ( a nova subcultura da periferia da cidade,idolatra personagens e bandas do J Pop nipônico criando uma curiosa pororoca cultural). 


Techno Guitarrada - Quatro moleques e um velho mestre das guitarrada, oriundos da região das ilhas que circundam a cidade, que misturam o ritmo da Guitarrada, a samplers e baterias eletrônicas, numa mistura inusitada de Mestre Vieira com Mad Professor.

A cena Rock e Hipster da cidade foi literalmente tornada irrelevante pelo Pós Brega. A classe média, antes detentora da produção cultural, foi tirada de cena pelas inovações musicais e tecnológicas da periferia. Apenas esparsas manifestações musicais conservadoras ainda teimam em resistir, emulando toscamente a MPB dos anos 70 e o Rock do Pós Punk.

O Turbo Jato levanta voo e silenciosamente, alcança as nuvens deixando para trás as torres assustadoramente altas da cidade. Daqui para frente será apenas rio e floresta Em poucas horas estarei em Los Angeles levando na bagagem centenas de arquivos musicais e planejando a minha volta, e imaginando a próxima mutação musical parida nas ruas confusas e sujas de Belém.

Jeff Nunez para o Bio Site da Rolling Stone Magazine. (Bio.rollingstonemagazine.com).
Atenção: Este produto e melhor aproveitado quando aplicado, em estado REM de sono.

2 comentários:

  1. Ótimo texto. Gostei bastante da sua descrição sobre a cidade, que foi minha parte favorita do texto. Deve ser realmente bizarro esse pós-tecnobrega, eu acho que não conseguiria ouvir nem por um minuto. rs

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  2. gostei... bem surreal e meio que atual...

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